Euler Sandeville e Bruna Palma
Instituto da Paisagem
12 de dezembro de 2020
Este artigo observa comparativamente a variação e comportamento de casos notificados até 12 de dezembro Na cidade de São Paulo e Na Região Metropolitana no Estado de São Paulo, segundo dados da Fundação Seade do Governo do Estado de São Paulo. Em um outro artigo analisaremos os óbitos no Estado. A importância de fazer isto neste momento é informar e prevenir, ante o recrudescimento de casos e mortes que se reinicia, em meio a um desgaste emocional, produtivo e político das festas de fim de ano e férias de início do ano.
A conclusão a que chegamos da análise dos dados é que se não houver uma retomada nas políticas públicas e no comportamento interpessoal dos cuidados sociais para controle da dispersão da pandemia, corremos o risco de mortes e aflições que seriam evitadas, pois até esta data a vacinação é uma esperança, mas ainda não é um fato.
Na verdade, isso já está acontecendo. O total de casos na cidade de São Paulo até 12 de dezembro (14:25 horas) foi de 371.669, na Região Metropolitana de 612.472 e no Estado de 1.334.703; no Brasil, foram 6.880.127 casos notificados.
Nas demais Regiões Metropolitanas, abrangidas nas seguintes Regionais de Saúde do Estado, temos: Campinas, 139.924 casos; Baixada Santista, 72.172 casos; Sorocaba, 60.322 casos; Taubaté, 60.638 casos. As Regionais de Saúde são mais amplas do que as referidas Regiões Metropolitanas, refletindo ainda a desarticulação dos sistemas estaduais de gestão e planejamento (Figura 1).

O total de casos nessas Regionais equivale a 333.056 notificações; com a Grande São Paulo, somam 945.528 casos. As remanescentes 389.175 notificações distribuem-se pelo restante do Estado. Os dados aqui coletados são de 12 de dezembro.
- o Estado de São paulo concentra 19,4% dos casos registrados no país;
- o município de São Paulo concentra 5,4% dos casos notificados no país, 27,8% dos casos do Estado, 60,7% dos casos da Grande São Paulo e 39,3% dos casos das Regionais de Saúde aqui indicadas;
- a Grande São Paulo concentra 8,9% dos casos registrados no país e 45,8% dos casos registrados no Estado (sendo que abriga 47,4% da população do Estado);
- Essas 5 regionais registram 13,7% dos casos do país e 70,84% dos casos notificados no Estado.
Se observarmos o mapa (Figura 2) de concentração de casos por município para essa data disponibilizado pela Fundação Seade, observaremos que a concentração de casos se dá em torno aos principais centros regionais do Estado e de seus eixos rodoviários (Figura 3). Veremos também que as Regionais de Saúde em que se inserem as regiões metropolitanas que formam a Macrometrópole de São Paulo concentram 70,84% dos casos do Estado (Figura 4).



Se acrescentarmos a esse quadro o total de casos da Regional de Piracicaba (55.350), com os casos concentrados principalmente em Araras, Limeira e Piracicaba, encontramos 75% dos casos registrados no Estado (1.000.878 de 1.334.703) concentrados nessa ampla região, como representado nas Figuras 1a 4 e esquematizado na Figura 5 a seguir). As Figuras em anexo mostram a delimitação específica de cada uma dessas Regionais de Saúde, com seu respectivo desempenho.

Esse padrão já vinha sendo notado em outros momentos da pandemia, como pelo Observatório COVID-19 (https://covid19br.github.io), que ao início da pandemia identificou como principais núcleos propagadores as microrregiões de São Paulo, Campinas, Sorocaba e São José do Rio Preto (https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/49/72). Os dados da pesquisa (Figura 6) referiam-se ao início de abril, mas mostram a confirmação e extensão do padrão até dezembro (Figuras 2 a 5).

A participação proporcional da cidade de São Paulo e da Região Metropolitana nos registros foi progressivamente distribuindo-se ou irradiando-se ao que supomos a partir daí. A função que parece determinar essa dispersão é a mobilidade associada a essa grande concentração populacional e de recursos institucionais e econômicos.
De imediato, podemos supor que a dispersão do período de férias que está se iniciando (escrevemos em 12 de dezembro) e o baixo cuidado que vem sendo demonstrado já em situações de lazer, podem sobrecarregar de imediato destinos turísticos e retornar com um número de casos ampliados para o cotidiano dessas cidades. Ao analisar separadamente a variação de casos de cada departamento regional de saúde, é possível verificar que a Baixada Santista (Figura 7), destino turístico durante os feriados e finais de semana, apresentou um aumento pontual de casos já em setembro, no momento em que outras regiões apresentaram queda e a partir de novembro. Na Grande São Paulo, o efeito dos fluxos de lazer e relaxamento dos cuidados preventivos na cidade seriam sentidos a partir de novembro (Figura 8).


O alerta não é descabido: os eventos mais recentes de fragilização dos cuidados e de formação de aglomerações em feriados e nas eleições mostram seus efeitos. O estado apresentava no início de setembro, em cerca de 6 meses, 814.375 casos notificados. Nesta data, decorridos 3 meses, houve um acréscimo de 520.328 casos notificados, sendo 217.556 desde 01 de novembro.
A partir do início de julho todos os meses apresentam mais de 100.000 casos notificados no Estado e o mês de dezembro até o dia 12 já apresenta 84.113 novos casos. A Figura 9 mostra a porcentagem de novos casos nos meses de março a novembro; a partir de junho se concentram 91% dos casos notificados (1.220.216), sendo nos meses de junho, julho e agosto notificados 56% dos casos, e 35% nos meses de setembro, outubro e novembro no estado de São Paulo.

Tal informação não pode ser analisada descolada da realidade de fluxos cotidianos e concentração de recursos nessas regiões metropolitanas e na Macrometrópole e da desigualdade social que afeta parte considerável dessa população.
Restaria então continuar analisando as dinâmicas internas a essas cidades, para verificar o impacto provável no espaço intraurbano sobre populações mais vulneráveis por faixas etárias e por condições de exclusão socioeconômica e ambiental e, consequentemente, o impacto sobre o sistema de saúde. Confira em
O luto da pandemia na cidade de São Paulo: distribuição espacial, idade e escolaridade (dez 2020)
Distribuição espacial dos casos de Covid-19 em setembro, outubro e novembro na cidade de São Paulo (27/11/2020)
O aumento em outubro e novembro de casos de Covid-19 na cidade de São Paulo e sua letalidade(27/11/2020)
Dentro das regiões metropolitanas, há áreas de maior IDH e desenvolvimento econômico (Figura 10) que concentram fluxos de pessoas e mercadorias e, que portanto, se colocam como núcleos propagadores do vírus, afetando áreas de menor IDH dentro de uma mesma região, onde há menor infraestrutura para lidar com um maior número de casos. O desenvolvimento geográfico desigual se mostra, novamente, como um fator importante para compreender os impactos da pandemia.

Essa condição não é um destino, embora provável. Poderia, ou poderá, ser evitada com atitude das pessoas e dos setores públicos e privados, neste momento em que a vacinação ainda é uma esperança e uma projeção que se anuncia para um futuro próximo, que certamente envolverá bem mais do que os três meses iniciais do ano e provavelmente do primeiro semestre. Dessa maneira, ao início do próximo ano o cenário é de intensificação da pandemia, se não houver precaução da população e política estadual e municipal diante de um quadro provável.
Essas curvas de dados sempre podem mudar, porém, até aqui, a medida comprovada para a diminuição de casos tem sido o controle social e solidário da dispersão da pandemia por meio do distanciamento social e também do rastreamento de casos por parte do governo, medida que não deve ser descartada mesmo com a possibilidade de vacinação.
como citar
SANDEVILLE JR., Euler, PALMA, Bruna Feliciano. Covid-19 no Estado de São Paulo: Parte 1: casos notificados (distribuição espacial; 12/12/2020). São Paulo: Instituto da Paisagem Projeto Biosphera21, Ensino e Pesquisa (https://ensinoepesquisa.net.br/), on line, 2020 [dez].
Anexo. Mapa das Regionais de Saúde e respectivos casos notificados











