paisagens contemporâneas: territorialidades e tensões culturais – a disciplina

AUP5883 PAISAGENS CONTEMPORÂNEAS: TERRITORIALIDADES E TENSÕES CULTURAIS

programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Área de Concentração Paisagem e Ambiente

Prof. Euler Sandeville

Prof. Jorge Bassani

 

A disciplina foi proposta e criada em 2017 pelo Prof. Euler Sandeville Jr., inicialmente propondo-se o título 19451955195719691971197219742012 – Da Contra-Cultura à Paisagem Contemporânea. A numeração 19451955195719691971197219742012 (UPC/EAN) era um código de barras (Universal Product Code-UPC; European Article Numbering System-EAN) da cultura criado para um projeto mais amplo de discussão da cultura contemporânea, formado por uma conjunto de eventos que iniciava-se em 1945: em minutos, Hiroshima deixou de existir.

É 08:15, 06 de Agosto. As crianças correm pela casa, o sol doira a paisagem através da janela, e planos do dia-a-dia derramam-se pelos sorrisos indicando, entre as dores, a razão de tanto trabalho.

Nos ares cruza o céu o bombardeiro B-29 que levantara voo pouco antes, e entregava nesse momento sua mercadoria para a cidade. A ameaça invisível levava apelidos carinhosos na sua entrega: o avião foi apelidado Enola Gay em homenagem ao nome da mãe do piloto, seguido de outros dois B-29 que tinham a missão de medir e fotografar a missão. A bomba foi apelidada cinicamente de Little Boy.

Exatamente nesse horário foi detonada a 576 m acima de Hiroshima, onde viviam cerca de 330 mil pessoas, civis! Levantou uma nuvem de 9 km de altura e provocando ventos de 640 a 970 km/h e calor de cerca de 5,5 milhões de graus centígrados, similar às temperaturas próximas ao limbo do Sol.

Assassinou-se desse modo cruel cerca de 130 mil pessoas e feriu-se a outras 80 mil; 221.893 mortos é o total das vítimas da bomba reconhecidas oficialmente. Mas não há como contar o que se desintegrou. Não há um sorriso, há um deserto por quilômetros e, onde ainda há gente, perplexidade e dor indescritível.

(do programa original da disciplina)

Por sugestão do Programa, a disciplina foi aprovada com o nome de Paisagens Vivenciadas – Da Contra-Cultura à Contemporaneidade. Seu projeto inicial era trabalhar um material tematicamente recortado em movimentos culturais a partir do marco do final da Segunda guerra Mundial,

(1.) analisando seus produtos e, na medida do possível, processos criativos e a relação arte-vida cotidiana a partir da experiência vivenciada até sua constituição como produto,

2.) como base para a investigação crítica das próprias percepções e valores pré-concebidos em relação à paisagem e às sensibilidades que assim se mobilizam,

(3.) confrontando o ambiente acadêmico com formas de valoração e organização externas a esse ambiente, esperando gerar uma tensão crítica que contribua para discutir o papel da Universidade, do conhecimento narrativo e da sensibilidade artística.

Nesse sentido, partindo desses estudos temáticos e de sua base de referência conceituai, a disciplina tem uma perspectiva fortemente experimental a partir de recortes temáticos.

A herança desse período curto que ainda não ultrapassa os indicadores de expectativa de vida nacionais, mas extremamente singular na história humana, não está devidamente avaliada, como também ainda é difícil a discussão do que representem hoje e que novos arranjos se estabelecem. Os marcos emblemáticos da cultura contemporânea, e da contracultura, expressos em movimentos artísticos e coletivos como os beats, situacionistas, fluxus, movimento hippie, movimentos contra guerras e outros tantos mais recentes como os Fóruns Sociais, coletivos de arte e formas de ativismo, procuraram ou procuram se opor a processos extremamente violentos da sociedade globalizada, com impacto nas formas de comportamento, mobilidade, sexualidade, defesa do ambiente, fruição da paisagem, apropriações simbólicas da natureza e representações do urbano. Porém, suas contribuições não se dão de modo independente da reorganização desses mesmos tópicos – comportamento, mobilidade, moda, institucionalização da questão ambiental e da participação local, associações políticas etc. – na sociedade contemporânea, permitindo colocar em discussão seus programas libertários.

Seu primeiro oferecimento ocorreu em 2008, com o tema exploratório de “Movimentos artísticos e culturais, contextos políticos, movimentos sociais“. Para esse oferecimento foi convidada como colaboradora da disciplina a Profa. Mônica Junqueira tendo como palestrantes Prof. Dr. Agnaldo Farias (FAUUSP) Prof. Dr. Carlos Guilherme Mota (FFLCHUSP), Prof. Dr. Francisco Alembert (FFLCHUSP), Prof. Dr. Henrique Carneiro (FFLCHUSP), Prof. Dr. Laymert Garcia dos Campos (Unicamp), Profa. Dra. Otilia Arantes (FFLCHUSP).

Para seu oferecimento em 2010 foi convidado o Prof. Jorge Bassani, iniciando uma cooperação crítica e criativa que está em curso. nesse momento, ainda procuramos uma aproximação geral do tema, com forte ênfase em suas poéticas, gerando algumas questões que seriam desenvolvidas tematicamente nos oferecimentos seguintes. Nessa ocasião as aulas focaram processos criativos e críticos em relação à cultura urbano-industrial ou também da sociedade de consumo, enquanto forma de problematizar a sensibilidade contemporânea e, em alguns casos, como forma de ação política direta a partir de referenciais contra-culturais, isto é, de inspiração coletiva, antiautoral em alguns casos, de autogestão, mas também em muitos casos fortemente personalistas. Discute a potência, o alcance e contradições desses projetos e sua incorporação ou diálogo com os mecanismos sociais perante os quais se pretendem críticos.

Figura 1. Cartaz da Proposta de Trabalho em 2010.

A partir da renovação da disciplina em 2012 propusemos os dois professores – Euler Sandeville e Jorge Bassani, como responsáveis pela disciplina, em um projeto de trabalho comum e uma atualização do nome da disciplina para Paisagens Contemporâneas: Contracultura E Resistência. desde então, dando continuidade ao projeto iniciado em 2010, a cada oferecimento discutimos e organizamos uma seleção temática exploratória e de problemas de investigação, lançando mão de múltiplos recortes temporais na leitura desses temas, levando a um amadurecimento do projeto a cada ano.

Dentro da temática da contracultura e da vivência intensa dos processos culturais, sobretudo de contestação, tivemos como temática em 2013: “Manifestações culturais nos anos 1960 no Brasil e das transformações comportamentais nessa década“, em 2015: “Liberdade, Violência e Consumo: ensaios sobre os Estados Unidos da América” e em 2018 “Sensibilidades e Práticas Contemporâneas“, ocasião em que aprofundamos pensar a constituição do que estamos chamando por contemporâneo, ampliando as temáticas trabalhadas.

Nesta última, e no contexto mais complexo do contemporâneo que vínhamos explorando nos oferecimentos, foi nos parecendo, de diferentes modos, que a questão da contracultura e das fragmentações dos processos de resistência já não respondiam às indagações diante das quais nos encontrávamos. Ficou clara a importância de ultrapassar as questões contraculturais e aprofundar a temática das territorialidades em conflito, em diversas escalas, daquelas geopolíticas do mundo globalizado às escalas do espaço público e dos lugares urbanos.

A partir desse processo de reflexão foi possível intentar uma organização narrativa mais complexa e prenhe de questionamentos levados pelos docentes e alunos. Na oportunidade do recredenciamento de 2018, procurando incorporar os avanços do projeto, solicitamos a mudança do nome de Paisagens Contemporâneas: Contracultura e Resistência, para Paisagens Contemporâneas: Territorialidades e Tensões Culturais, que expressa melhor neste momento a evolução de nossas indagações e abordagens temáticas pretendidas. Na oferta da disciplina muitas vezes fomos solicitados pelos alunos a ampliar o plano de trabalho em função de questões emergentes nos debate dos temas, em razão do que estendemos a disciplina de 9 para 15 semanas.

Com isso, em seu primeiro oferecimento com o novo nome, mas em continuidade a um processo contínuo de construção e indagação em nossos outros projetos e com os alunos da disciplina nesses anos, adotamos para seu oferecimento em 2019 o tema 2020 (2045 – 25) ¾ de Século de Vertigem, Insanidade e Ilusão.

 

Euler Sandeville Jr.
São Paulo, agosto de 2019


espiral da sensibilidade e do conhecimento
um projeto de euler sandeville

Foto Euler Sandeville, Folha, detalhe, 2009.
Folha, detalhe. Foto de Euler Sandeville, 2009.

 

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