Ordem Congregacional (irmãos suíços) [99]
Este conjunto de instruções concernentes à ordem congregacional e ao culto foi divulgado em 17 de abril de 1527, junto com o texto de Schleitheim, aparentemente conjuntamente com o texto de Bern da União Fraterna. Deve ter sido juntado então ao mesmo tempo em abril, dentro das seis semanas do encontro em Schleitheim. Há bases circunstanciais para ser considerado ligado a Schleitheim e Sattler.
Uma vez que o eterno, poderoso e misericordioso Deus fez sua maravilhosa luz brilhar neste mundo e [nesta] época perigosa, nós reconhecemos o mistério da vontade divina, que a Palavra nos seja pregada de acordo com o ordenamento adequado do Senhor [100] por meio da qual fomos chamados para a Sua comunhão. Portanto, de acordo com o mandamento do Senhor e os ensinamentos de Seus apóstolos, no ordenamento cristão, devemos observar o novo mandamento, [101] no amor mútuo, de modo que o amor e a unidade possa ser mantida, o qual todos os irmãos e irmãs de toda a congregação devem concordar em manter:
Os irmãos e irmãs devem se reunir pelo menos três ou quatro vezes por semana, para se exercitar [102] no ensinamento de Cristo e seus apóstolos e cordialmente exortar uns aos outros para permanecerem fiéis ao Senhor, como prometeram.
Quando os irmãos se reunirem, devem trazer algo para ler juntos. [103] Aquele a quem Deus deu melhor compreensão deve explicar, [104], os outros devem prestar atenção e ouvir, de modo que não hajam dois ou três travando uma conversa privada, incomodando os outros. O Saltério deve ser lido diariamente em casa. [105]
Que ninguém seja leviano na igreja de Deus, nem em palavras nem em ações. A boa conduta deve ser mantida por todos e também perante os pagãos. [106]
Quando um irmão vê seu irmão cometer um erro, ele deve adverti-lo de acordo com o mandamento de Cristo [107] e repreendê-lo de uma forma cristã e fraterna, pois todos estão vinculados e obrigados a fazer por amor.
No conjunto dos irmãos e irmãs desta congregação ninguém terá alguma coisa própria, mas, como os cristãos no tempo dos apóstolos terão tudo em comum e, especialmente, armazenados num fundo comum do qual pode-se ajudar os pobres, de acordo com a necessidade de cada um, [108] e, como no tempo apóstolos, não permitir que nenhum irmão passe necessidade.
Toda glutonaria deve ser evitada entre os irmãos que estão reunidos na congregação; sirva uma sopa ou um mínimo de vegetais e carne, pois comer e beber não é o reino dos céus. [109]
A Ceia do Senhor deve ser realizada sempre que os irmãos se reunirem, [110], anunciando a morte do Senhor, e assim instando cada um a relembrar como Cristo deu a Sua vida por nós e derramou seu sangue por nós, para que possamos também estar dispostos a dar o nosso corpo e nossa vida por amor de Cristo, o que significa pelo bem de todos os irmãos.
NOTAS
99. Este documento não tem título, o título escolhido aqui reflete o rótulo dado na (moderna) tabela de conteúdo do volume de materiais de arquivo UP 80 no Arquivo do Estado de Berna. Nenhuma tradução completa para o Inglês foi publicada; o texto foi desenvolvido por Delbert Gratz, Bernese anabaptists, Scottdale, 1953, p. 25, e por Robert Friedmann, MQR, 1955, p. 162. Jean Séguy publicou uma tradução e comentários no Cristo Seul (Jornal dos menonitas franceses) No.1 (p. 13) e N º 2 (p. 5), 1967. O texto parece ser idêntico a cópia dos sete artigos, de modo que pode-se presumir que circularam juntos e foram concebidos simultaneamente. (Cf. p. 32.)
100. Pode significar: “na providência de Deus, a Palavra é pregada para nós”, segundo a qual “Ordnung” remete para as obras de Deus em realizar a Reforma e a pregação do evangelho, ou “a Palavra de Deus é pregada de acordo com o padrão divino”, com a ênfase no redescobrimento do verdadeiro legado divino na ordem da igreja. O seguinte “segundo a qual” pode, portanto, se referir à pregação ou à ordem correta.
101. In 1. 2:8.
102. “Sich ben”: talvez inclua um elemento de aprendizagem mecânica da narrativa do evangelho e do ensino, uma vez que a alfabetização e a posse de Bíblias era rara.
103. “Ler” inclui exposição. “Leituras” foi um dos primeiros nomes dados às reuniões de estudo realizadas em Zurique e St. Gall, antes da fundação das congregações anabatistas.
104. “Aquele a quem Deus deu o melhor entendimento deve explicar isso” pode significar que, para cada passagem em particular, quem entende o seu significado deveria falar. Então, teríamos um retrato de uma reunião com uma liderança assente, sem nenhum papel de controle por parte do “pastor” mencionado no Artigo V. Então, pode-se inferir, como faz Jean Séguy, que este texto testemunha um tempo antes das decisões de Schleitheim, quando congregações funcionavam sem um líder nomeado. É, no entanto, também possível que “aquele a quem Deus deu o melhor entendimento” possa ser um circunlóquio para um líder reconhecido espontaneamente no grupo local.
105. Esta “leitura” pode muito bem ser recitação mecânica. Esta referência ao Saltério é uma das raras referências anabatistas primitivas a exercícios devocionais não-congregacionais. Pode ser mais um traço (veja acima p. 23, nota 19) de uma herança do monasticismo.
106. 1 Tm. 2:8.
107. Mt. 18: IS, cf. nota acima.
108. O fundo comum é visto aqui como uma bolsa especial para necessidades específicas, não como um comunismo total de consumo, tal como foi estabelecido, não muito tempo depois na Morávia. É significativo que o anabatista não-huterita também considerasse seguir o exemplo econômico dos primeiros cristãos de Jerusalém.
109. Rom. 14:17. A suposição de que a congregação que se reúne freqüentemente em torno de uma simples refeição pode estar ligada a sua evasão de clubes sociais e corporações (acima, p. 38, art. IV.
110. A Ceia do Senhor, especificamente identificada como tal, é evidentemente distinta das demais refeições, embora ambas fossem praticadas tão freqüentemente quanto quando os irmãos se encontravam. (Cfr. Art. 1).
“The Legacy of Michael Sattler” por John Howard Yoder, Herald Press, 1973. Fonte digital em inglês: tiny.cc/vykky↑. Traduzido por Railton Sousa Guedes. taborita.blogspot.com/2009/12/confissao-schleitheim.html