PROGRAMA UNIVERSIDADE LIVRE E COLABORATIVA: Processos Colaborativos de construção do conhecimento e Aprendizagem em Ação (2003-2012; 2012-2015)
Euler Sandeville Jr., fev 2018
O Programa valoriza a capacidade interpretativa dos processos urbanos e ambientais relacionando escalas regionais e locais, acompanhando políticas públicas, realizando estudos de percepção e de memória da paisagem com moradores, estudos de conectividade ambiental urbana, estudos colaborativos de potencialidades de paisagem. Trata-se de uma pesquisa exploratória que se entrelaça com outras pesquisas docentes, suas atividades didáticas e de orientação, constituindo uma base empírica de aplicação e diálogo.
Esses estudos e os processos colaborativos acima indicados estão presentes em em medidas diferentes em praticamente todos os trabalhos do NEP na linha “Processos Colaborativos e Ações Educativas”. Aliás, isso define essa linha, e a Universidade Livre era pensada como a consumação de possibilidades coletivas entre o NEP e seus parceiros. Nesse sentido, o Programa não se dissocia das demais atividade e práticas do Núcleo, era uma proposta central da constituição do NEP, desde os primeiros trabalhos em Salto da Divisa (MG), Juqueri e Brasilândia.
Desse modo, o Programa foi sendo construído tentativamente juntamente com o Núcleo de Estudos da Paisagem, uma vez que muitas dessas características estão presentes no conjunto de nossas atividades de orientação e desenvolvimento de pesquisas e de formação pública. Na verdade, o NEP foi pensado como uma Universidade Livre e Colaborativa, querendo com isso dizer uma USP aberta à participação em construção no diálogo com a sociedade, com as comunidades, de modo que na maior parte das vezes a linha de História da Cultura e da Paisagem não foi completamente incorporada ao NEP senão a partir de 2015. Por outro lado, cada ação que ultrapassou o âmbito dialógico das pesquisas para uma ação participante de construção de conhecimentos e solução de problemas, foi um ensaio dessa ideia ou de algum de seus aspectos.
O que caracterizou o projeto tentativo e experimental do NEP foi o esforço de ultrapassar a segmentação Ensino, Pesquisa e Extensão, que está em sua origem. A própria noção de Extensão como transmissão de saberes da Universidade para parceiros e interessados externos a ela não faz sentido nesse caso e a própria separação em ensino, Pesquisa e Extensão, que tem sua razão administrativa, perde sua capacidade explanativa, convidando um outro conceito, que para nós foi o de Universidade Livre. O que se entende é que todas estas, a pesquisa, o ensino e o diálogo com comunidades, são um processo integrado e único de produção de conhecimento, de aprendizagem, de formação, respeitando e confrontando colaborativamente saberes diversos.
Contudo, o que em outras atividades do NEP poderia ou não ocorrer, na concepção do programa esperava-se contribuir na construção de processos autogestionados e independentes na transformação do ambiente, que permanecessem fundados em uma perspectiva coletiva que deve ser inerente à paisagem, e não propriamente à dos coletivos envolvidos na medida em que ganham o chamado “empoderamento”.
A estratégia envolvia sobretudo a ação no âmbito cultural, do aprendizado (educação) livre, e da pesquisa participante, na integração entre pesquisa e programa, na formação de pesquisadores locais, na integração entre disciplinas de graduação, de pós-graduação e participação da comunidade em um processo coletivo e integrado de concepção, gestão e desenvolvimento.
Foram as experimentações iniciais de maior expressão em torno da interpretação, valorização e conservação da Pedra Grande em Atibaia, contribuindo para a criação do Monumento natural, a pesquisa de Cecilia Angileli na Brasilândia (inclusive com a criação de um coletivo integrado, a Esquina da Memória e de um Núcleo avançado do NEP na região), no Heliópolis (com a pesquisadora Claudia Cruz).
Esses trabalhos se desdobraram em ações pontuais de natureza social e cultural e de pesquisa construída dialogicamente, envolvendo pesquisas de graduação e pós-graduação e disciplinas de graduação e pós-graduação organizadas integralmente junto com as comunidades, abertas à sua participação e geridas conjuntamente, desenvolvendo formas cooperativas de construção de conhecimentos e ações culturais, conforme o caso.
A integração de disciplinas docentes, e daí alunos e comunidades, ocorria desde o início do NEP, bem como a integração das pesquisas com comunidades. Mas foram nestas experiências que se começou a integrar não só a relação das disciplinas do docente com certas comunidades, ainda que construídas coletivamente, como até então ocorria no NEP, mas os pesquisadores e suas pesquisas em curso e as comunidades com as disciplinas, focando e acontecendo em suas áreas.
Contribuíram também, e muito, atividades que eu realizava com o CORO (Rede de Coletivos) com o qual a Espiral se relacionava e com o coletivo aberto EIA (Experiência Imersiva Ambiental) com o qual me relacionava intensamente, entre outros coletivos e redes de discussão alternativa, de mídia e software livre e independente. Particularmente importante foi a experiência coletiva do EIA 2008, um jogo urbano jogado com anfitriões e derivas no Grajaú, Querosene, Itapecerica da Serra, Sé, Edu Chaves, Parque da Aclimação.
A partir desses processos e da integração disciplinas e oficinas sempre envolvendo pesquisadores, alunos de graduação e pós e moradores, sem qualquer distinção em função das hierarquias sociais dos saberes, mas desenvolvendo formas dialógicas e solidárias de trocas e construção de conhecimento. Foram organizadas e geridas integralmente junto com lideranças das comunidades envolvidas, e os coletivos formados por alunos e moradores estabeleciam um novo nível de decisão e construção, sempre acordando-se alguns princípios fundantes. Outra ações mais pontuais tiveram outras características, como em comunidades como Vila Nova Esperança, Pantanal, Ocupação Mauá, Cicas e outras.
Entre os alvos específicos que deveriam caracterizar a ideia da Universidade Livre e Colaborativa estavam a criação de núcleos avançados do NEP com esses parceiros, intentada no parque do Juqueri no início do NEP, em Atibaia e na Brasilândia. Outro alvo era a formação de pesquisadores populares, criando um trânsito e uma espiral de conhecimento e sensibilidade não só na produção de conhecimento, mas da experiência do espaço do bairro e da universidade. Inclusive acolhendo moradores em processos de formação de pesquisadores, inclusive de pós-graduação. Basicamente, o NEP foi concebido como uma ideia de universidade livre, experimental, colaborativa, sem prejuízo de outras formas.
O Programa, de fato, só deixou de ser uma proposta e experimentações entre 2012 e 2014 (com desdobramentos dessa parceria ainda em 2015), quando foi possível chegar a uma quase plena expressão da ideia com os parceiros da região de Perus, momento em que absorveu praticamente todos os esforços do NEP. Na verdade, o Programa ganhou autonomia, passando a se identificar plenamente com essas atividades realizadas como um único coletivo formado pelo NEP e pelos parceiros de Perus. De modo que a expressão Universidade Livre e Colaborativa passa a remeter legitimamente a essa experiência.
Envolveu diversos pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação, concebido juntamente com moradores e movimentos de cultura (Coletivo Quilombaque) e educação (Projeto Coruja) de Perus, lideranças da Aldeia Guarani no Jaraguá, esforços comuns para a preservação da Fábrica de Cimento Perus, questões ambientais, valorização e homologação das Terras Guaranis no Jaraguá, projetos educativos. Foi fundamental para a criação do Território de Interesse da Cultura e da Paisagem no Plano Diretor de 2014.
veja também:
Parceria entre a Universidade Livre e Colaborativa e a Escola no trabalho de TCA
como citar material desta página:
SANDEVILLE JR., Euler. “Programa Universidade Livre e Colaborativa: Processos Colaborativos de construção do conhecimento e Aprendizagem em Ação (2003-2012; 2012-2015)”. Núcleo de Estudos da Paisagem, on line, São Paulo, 2018. Disponível em https://nucleodeestudosdapaisagem.wordpress.com/2018/02/11/programa-universidade-livre-e-colaborativa/ acesso em DIA/MÊS/ANO.
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núcleo de estudos da paisagem
a natureza e o tempo (o mundo)
uma proposta de euler sandeville
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REFERÊNCIAS DO POST
Figura destacada no topo nesta página: Esquema da estrutura conceitual do NEP no início de 2011. Concepção e realização Euler Sandeville Jr.
Título: Programa Universidade Livre e Colaborativa: Processos Colaborativos de construção do conhecimento e Aprendizagem em Ação (2003-2012; 2012-2015).
Title: Free and Collaborative University Program: Collaborative Processes of Knowledge Building and Learning in Action (2003-2012, 2012-2015).
Autor/Author: Euler Sandeville Jr.
Web designer: Euler Sandeville Júnior
Resumo: Apresenta o processo de construção do Programa Universidade Livre e Colaborativa do Núcleo de Estudos da Paisagem – NEP. A ideia é inerente à concepção experimental do NEP, chegando em alguns momentos a abarcar e definir sua proposta. O artigo apresenta resumidamente o desenvolvimento tentativo e progressivo da ideia entre 2003 e 2011 e sua melhor realização entre 2012 e 2014/2015 na região de Jaraguá e Perus.
Abstract: The article presents the process of construction of the Free and Collaborative University Program of the Center for Landscape Studies – NEP. The idea is inherent in the experimental design of the NEP, reaching in some moments to encompass and define its proposal. The article briefly presents the tentative and progressive development of the idea between 2003 and 2011 and its best performance between 2012 and 2014/2015 in the region of Jaraguá and Perus.
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